PALAVRAS POETIZADAS

Madrugada

Ela observava da janela do seu apartamento as gotas de chuva caírem no asfalto e correr ladeira abaixo. Costumava pensar que fosse uma maestra e comandava cada pingo que caia, em perfeita sincronia, formando uma orquestra.

Talvez a força que tivesse no peito para enfrentar seus problemas, se esgotasse cada vez que encostava o dedo no violão e se punha a tocar as suas melódias favoritas na madrugada escura. Chegava a ficar tão cansada, que dormia ali mesmo, no cantinho perto da janela, e só acordava quando o sol dava os primeiros sinais com os raios em seu rosto cansado.

De poucas coisas tinha certeza, e uma ela tinha uma convicção: A vida passava por ela como um vendaval sem controle. E ela gostava disso. Gostava de se sentir fora do comando, de ser guiada, de se aventurar em algo desconhecido. Talvez estivesse errada, mas ela era uma errante.

Sua combinação favorita era janela aberta, madrugada e chuva. Quando não se punha a embalar seu apartamento com o som do seu violão, lia. Nada quebrava o silêncio do seu espaço solitário, exceto pela campainha tocando naquela dia. Um homem com cara de menino, vestindo um pijama xadrez, sorrindo torto e olhando fixamente nos seus olhos disse: Sabe, você toca violão muito bem… Mas percebi que falta alguma coisa.Eu sei cantar. Que tal uma companhia para um dueto?