PALAVRAS POETIZADAS

Limbo

Nos seus ombros miúdos faltava-lhe energia e nos seus olhos, brilho. Caminhava numa antropoformização de gente com burro de carga no final da noite, cansado, com sede, faminto e sem propósito. Seu sorriso era exausto e escondia um passado que não gostava de lembrar e envergonhava-se da importância que ele tivera no resto de sua vida solitária. Não era casada, não tinha filhos ou um emprego permanente. Não por opção. O seu nome não era recordado por quase ninguém, mas poderia bem chamar-se Macabéa. De pele opaca, rugas nos olhos e aparência cansada, arrastava-se pelos corredores de uma vida, buscando um sentido que nunca encontraria.